quarta-feira, 14 de dezembro de 2016

A queda de uma rainha...

É a história de uma bebé que se recusa a beber o seu leite e vai perdendo peso. A mãe está aflita com isso e o pai também, é claro. Tentaram esse filho durante 9 anos e agora que nasceu, as coisas não estão a correr nada bem. O pai é um apicultor, completamente doido por abelhas, nunca foi picado e elas andavam sempre atrás dele, em pequenino, e era tudo maravilhoso. A mãe, a dada altura, chora muito e o pai vai ler os seus artigos sobre abelhas. Há um que diz que a geleia real, em 5 dias, faz aumentar 1500 vezes o peso da larva da rainha. O pai faz as contas e chega à conclusão de que se fosse um bebé de 3 quilos e meio, em 5 dias, ficaria a pesar 5 toneladas. Então decide colocar geleia real no leite da bebé. E aí, é tudo maravilhoso, ela alimenta-se lindamente e passa a ter sempre fome e aumenta realmente de peso… A mãe, chata, começa a achar que é tudo muito estranho e o marido confessa o que fez. Ela fica com medo porque não sabe se a coisa da geleia real é mesmo boa e proíbe-o de voltar a fazer isso. Ele tenta convencê-la de que não há mal nenhum, confessando que, há uns meses, tinha lido um artigo sobre um rato estéril que passou a procriar muito depois de tomar geleia real e então ele também começou a tomar e foi assim que ela engravidou. Ao ouvir isto, a senhora observa-o bem e vê que ele está fisicamente semelhante a uma abelha. E olha também para a filha que parece, passo a citar “a gigantic grub that was approaching the end of its larval life and would soon emerge into the world complete with mandibles and wings”… E acaba assim…

Foi esta a leitura extensiva que tive de ler com o meu 10.º profissional e o meu 10.º vocacional… Ia buscar “A Metamorfose” e tinha tido bem menos trabalho… Falando em vocação, não tenho nenhuma para as abelhas. E pensei: “Bem, eles (os alunos) vão fazer-me montes de perguntas sobre isto da apicultura. Deixa-me investigar!” E assim fiz… Colmeias, operárias, zangões, rainha, mel, geleia, própolis, pólen, etc… Horas nisto... O Vocacional não quis saber de nada. Só queria despachar a leitura e nunca tinha perguntas. Já os alunos do profissional fizeram todas as perguntas possíveis e imaginárias sobre esse mundo das abelhas… E eu, com calma, lá ia respondendo, orgulhosa de mim própria. Cheguei a ouvir um aluno a comentar com o seu colega: “Já viste a quantidade de coisas que a professora sabe!”… “Ya!”, respondeu o outro… E já me estava a imaginar a lecionar em Harvard: “Bees are our Friends” seria o nome da minha cadeira e eu seria alcunhada de “Queen Delilah”… Até que uma aluna pergunta “Professora, o que quer dizer ‘after the first feeding’?”, e eu respondo “Então, ‘depois da primeira mamada’”… Explosão de risos na turma… Percebo de imediato o que está a passar pela cabeça dos miúdos, tento manter a minha cor. Acabo por conseguir acalmá-los… E não consigo deixar de pensar “Uma carreira de sucesso perdida assim, num segundo, com um passo em falso… Que desperdício!”

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