segunda-feira, 25 de janeiro de 2016

Uma ajudinha ao CDS


Vou tentar explicar por que motivo(s) não deveriam ter ficado surpreendido com a suspensão do PET, antes com a sua atrapalhada implementação:

1.O PET testa vertentes (compreensão oral/escrita, produção oral/escrita), cuja implementação na realidade das numerosas turmas da maioria das turmas portuguesas não é exequível. Praticar, sobretudo a produção oral em turmas de 28 alunos, nos moldes em que decorre o teste oral do PET é, virtualmente, impossível. A carga letiva da disciplina (e já voltarei a este tema) não é compatível com a frequente produção oral, ainda que a pares, durante 10/15 minutos. Ademais, a insistência nesta atividade, faria com que os restantes alunos ficassem desprovidos do acompanhamento por parte do professor. É por isso que, no teste PET, o speaking se desenrola perante dois professores e apenas dois alunos (em casos excecionais,3). Conhecerão a realidade das turmas portuguesas? Conseguirão antecipar o clima que se viveria numa típica aula  de 9º ano, caso o professor estivesse concentrado na condução de uma sessão de speaking nos mesmos moldes do exame?

2. Ao contrário do Português e Matemática, a disciplina de Inglês partilha a sua carga horária com a 2ª língua estrangeira. Em termos práticos isso significa que nem todas as escolas do país darão a mesma primazia a Inglês. Daqui decorrer, necessariamente, uma assimetria grave: seria justo submeter alunos com diferentes oportunidades oferecidas pelas escolas ao mesmo teste, sobretudo quando o mesmo teria peso na avaliação da própria disicplina? 

3.E já que falamos em peso do PET: será justo que um elemento de avaliação externa (sim, porque apesar do Despacho 17-A/2005 não a considerar como tal, ela não poderia ser considerada como avaliação interna) tenha o impacto que cada escola decida (desde que entre 20 e 30%)? Para que se saiba, um peso entre 20 e 25% não acarretaria qualquer alteração à avaliação sumativa final da disciplina (do 3º período), mas 30% já poderia conduzir a grandes alterações (expliquei isso aqui)! Creio que isso criaria graves desigualdades e injustiças...

4. No ano letivo passado, muitos professores classificadores viram-se forçados a faltarem às suas próprias aulas para fazerem formação e sessões de speaking. Os seus alunos foram beneficiados com a sua ausência? I don't think so... 

5. Para além de implicar, em muitos casos, a falta destes professores às suas próprias aulas, as deslocações e abonos de ajudas de custo acarretaram muitas despesas ao erário público, nos casos em que estas foram pagas. E isto conduz-me ao ponto seguinte:

6. É sabido que, em resultado da agregação de escolas, cada vez mais os professores se veem obrigados a deslocações oficiais entre uma ou mais escolas do agrupamento (no caso dos professores de Inglês do 1º ciclo então é ainda mais evidente) para prestação de serviço oficial (mormente aulas e reuniões). Ora muitos dos relatos que tenho ouvido e, infelizmente, vivido na primeira pessoa dão conta que muitas escolas se demitem da responsabilidade do abono do subsídio de transporte alegando não ter disponibilidade orçamental. Como ser professor classificador (speaking examiner) obrigaria necessariamente a deslocações dos professores a escolas diferentes da sua própria, será que a sua própria escola se demitiria TAMBÉM do pagamento destas deslocações e eventuais ajudas de custo?

7. Mais, sendo que em muitas áreas geográficas não há transportes públicos compatíveis, esperariam que o professor disponibilizasse o seu próprio veículo para viabilizar o PET? Não é condição de acesso à carreira docente ter carta de condução ou veículo próprio. Ainda que os tenham, não são obrigados a pô-los ao serviço do Estado. Estaria o Estado disposto a pagar táxis aos professores speaking examiners, no seu périplo entre escolas? Então mas se nem dinheiro há para pagar transportes públicos aos funcionários públicos...

8. E o tempo despendido nas deslocações entre escolas? Sairia, como nos anos anteriores, do tempo livre do professor? 

9. O Ministério reconhece competência e idoneidade a um professor de inglês para elaborar, ser membro do júri de prova oral e corrigir  Provas de Equivalência à Frequência de 11º de alunos da sua escola, mas esse mesmo professor seria obrigado a frequentar formação (sendo que inicialmente até estava prevista exame de proficiência linguística) para implementar um "exame" de 9º ano? E não poderia ser elemento do júri das provas orais do PET, de 9º ano, na sua própria escola, mas para as provas de 11º já serviria? 

10. Por último, o baixo custo pago pelas famílias pelo eventual certificado PET, só foi possível porque todo o trabalho que o mesmo acarretava (formação, correção e sessão de oralidade) seria pago com o trabalho gratuito dos professores de inglês. Naturalmente, nos institutos estas funções são pagas e não é assim tão pouco (aqui. )

That's all, folks!

4 comentários:

  1. Até que enfim alguém explica isso de forma clara para que todos percebam que não se trata de uma "birra" dos profs de Inglês que não querem trabalhar.

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  2. Este comentário foi removido pelo autor.

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  3. As minhas filhas frequentam um Instituto de Inglês e lá o máximo número de alunos por turma é 12. Nas nossas escolas dever-se-ia desdobrar as línguas estrangeiras, pelo menos uma vez por semana, para se poder trabalhar a oralidade.

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  4. A oralidade e não só! Com uma turma de 25 alunos não se faz nada de jeito! Além disso, é preciso acrescentar que, normalmente, no 8º ano (e isso varia de escola para escola)os alunos têm dois tempos semanais de 45 minutos cada. Como é que é possível ensinar bem uma língua estrangeira nestas condições? E é sempre preciso contar com os problemas da indisciplina que não existem numa escola de línguas pois só lá anda quem está, realmente, interessado em aprender!

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