domingo, 9 de março de 2008

Apenas um opinião...

Já li diversas análises e comentários relativos à "Marcha da Indignação", e não consigo deixar de me surpreender com o conteúdo das mesmas. Existem aqueles que exalam um "ódio" visceral pelos professores, aqueles que defendem os professores com "unhas e dentes" e uns que não consigo posicionar (provavelmente os mais sensatos).

Sou docente há apenas 8 anos... Já estive em várias escolas (provavelmente em maior número que alguns colegas com 30 anos de serviço), adorei a maior parte dos meus alunos e uma parte dos meus colegas de profissão. Sempre observei a enorme desunião e nunca a compreendi muito bem.

Vou ser sincero... Nunca (nem por uma vez) pensei que a "Marcha da Indignação" pudesse ter algum efeito no rumo traçado pelo governo para a educação em Portugal. Podiamos ter lá estado todos, que Sócrates não recuaria. Não pode fazê-lo! Não agora... O "conflito" está demasiado agudizado para isso.

Algumas críticas têm sido feitas, relativamente aos nossos colegas que quando questionados pelos jornalistas respondiam de forma dúbia ou eventualmente "cómoda". Não sei se esses colegas leram efectivamente o Decreto Regulamentar n.º2/2008. Eu li... e sei exactamente quais os pontos que não concordo relativamente a este processo de avaliação. Poderei colocá-los aqui posteriormente se alguém quiser saber. Aliás, desafio os eventuais críticos a fazerem-no.

Quero ser avaliado e não me importo que seja com esta avaliação, se tiver de ser! No entanto, sou livre de exprimir a minha discordância e a manifestar-me por aquilo em que acredito. Estamos ou não numa democracia?! Não sou avesso a mudanças... Aliás, toda a minha vida profissional tem sido pautada por mudanças. Por aquilo que sei, primeiro existe formação e depois avaliação. Aliás, é aquilo que fazemos com os nossos alunos nas escolas. E é aqui que reside a minha principal crítica a este processo de avaliação do desempenho docente. Dêem formação a quem me vai avaliar (professores titulares e membros do conselho executivo)... Que surjam oportunidades de formação para eu saber como me posso autoavaliar e definir os meus objectivos individuais de forma correcta... Gostava de saber exactamente como posso definir as minhas "metas", dentro da realidade que me rodeia... E acreditem que não me basta a intensa pesquisa bibliográfica que tenho feito e as indicações constantes em diversos documentos presentes no sítio da DGRHE. Tenho necessidade de mais formação e informação nesta área... Para mim, é um factor de instabilidade saber que aqueles que me vão avaliar (meus "pares" de profissão), se sentem inseguros e mal informados (provavelmente ainda mais que eu). Imaginem como não seria para os alunos, se um professor não soubesse como avaliá-los?! As fases neste processo, estão invertidas...

Sou completamente a favor de uma avaliação. Uma avaliação diferente da anterior! Uma avaliação que siga as regras lógicas inerentes a um processo que se pretende objectivo. E a lógica, não é começar pelo "telhado", mas sim pelos "alicerces"! E os "alicerces" são os professores e a formação atempada para lidar com este novo processo de avaliação do desempenho. O problema não é o processo em si, mas sim a ausência de uma sequência que posso afirmar coerente.

Não considero que faça parte de uma classe privilegiada. Como posso fazê-lo?! Levo trabalho para casa quase todos os dias da semana; trabalho bem mais que as 35 horas semanais anunciadas; estou longe de todos aqueles que gosto; tenho de adaptar o meu humor ao humor de cerca de 70 alunos por dia; etc. E ainda por cima tenho de ouvir comentários infundados, generalistas e jocosos relativos à minha profissão. Eu não emito opiniões sobre as restantes profissões, pois não as conheço o suficiente...

3 comentários:

  1. Aqui está uma visão parecida com a minha. Realmente ao ver as notícias no sabado e domingo referente à Marcha, reparei que muitos dos professores entrevistados não sabiam argumentar da melhor forma, limitando.se a dizer que eram contra a Avaliação e mais nada. E quando assim é, é normal que os professores caiam em descrédito nesta luta por parte da opinião pública. Infelizmente... isso aconteceu.

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  2. Concordo, que nem sempre as pessoas quando entrevistadas apresentem os argumentos da forma mais válida. Também acredito, que é impossível fazê-lo numa frase, daí a resposta ser a "avaliação".
    Só não entendo é esses "opinadores" de profissão de que têm o direito de antena das televisões, escrevem nos jornais de maior tiragem, falam nas rádios de maior audiência, falem de coisas que não sabem, não leram ou não procuraram saber. Esses opinadores opinam tendo como base pequenos comentários de 30 segundos de colegas que estão presentes numa manifestação.
    Não entendo como é que esses opinadores não se questionam o porquê de tanta manifestação... Será que uma classe qualificada, como a dos professores são todos estupidos... NÃO, não são.
    Estupido é a maioria dos opinadores de Portugal, que só são opinadores porque não sabem fazer mais nada... E se esses fossem avaliados, nem opinadores estupidos seriam.

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  3. Realmente Prof contratado, concordo consigo...revi o meu pensamento naquilo que escreveu e sinto que é cada vez mais importante haver avaliação...mas com pés e cabeça...quando vejo alguns colegas nas entrevistas a responderem..."hadem ver" ou "tou contra a avaliação" interrogo-me se realmente leram o decreto, se sabem mesmo o que estão a defender...claro que "paga o justo pelo pecador"...e somos todos enfiados no mesmo saco. Existem medidas que são mesmo necessárias...mesmo não agradando a toda a gente...

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